Meu compromisso é com Santa Catarina

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sexta-feira, 22 de abril de 2011

CLASSE MÉDIA PARA TODOS!

De modo geral os partidos, quase todos eles, perseguem o chamado eleitor médio. O estudo do Neri não é casual. Ele é do Conselho de Desenvolvimento Econômico e social - CDES que é um núcleo de pensamento estratégico alocado na macro-estrutura da Presidência da República. Olhando para a distribuição do eleitorado por perfil esperado é o ‘eleitor médio” que acumula mais votos. É tipo uma curva de distribuição normal onde os extremos do espectro atrai menos eleitores. Os partidos maiores disputam o ponto alto da curva e muitos dos menores buscam um eleitorado fiel no extremos. É o perfil de votação dos antigos partidos comunistas na Europa, por exemplo, que normalmente nunca iam ale de 5% do eleitorado. Eles haviam criado um nicho eleitoral que nunca baixava, mas tb. nunca crescia.

Quando o FHC falou na classe média eu acho que ele falou no sentido de que a classe social que teve uma perda relativa no processo iniciado em 1988 foi a classe média urbana, que perdeu segurança, não tem uma clara política habitacional dedicada, acabou, frente a queda de qualidade do ensino público, tendo que migrar seus filhos para a escola particular, tendo que migrar para os planos de saúde particular por conta da qualidade do serviço de saúde, que se enrola no trânsito caótico das cidades, por conta da inexistência de políticas públicas de transporte coletivo etc.

Enfim, o custo da atenção às classes menos favorecidas foi a interesse do Estado voltado para elas. Não se trata de “valor”. Trata-se da luta que há pelo interesse do Estado. Bom dizer que é luta legítima quando feita pelo voto. O que se diz, então, é que é legítimo o interesse dessa classe média urbana. E ela tem voto. Vide a última eleição. A proposta de FHC é legítima e não é contraditória. Não estamos mais discutindo uma classe sobre as outras. Embora seja esse o discurso que interessa ao PT.

Claro que o Estado pode ter escolhas dramáticas a fazer do ponto de vista do investimento, tipos as que são feitas diariamente nos Pronto-Socorros, mas não há qualquer absurdo, embora boa parte da "esquerda" queira ver ai um, em vc pensar num sistema que dê bem estar ao conjunto da população e não a classe a, b ou c. Claro que a classe média urbana precisa ter menos atenção para que se possa dar mais atenção à equidade, mas dai para dar atenção nenhuma é uma grande distância. O que a oposição obsecada pelo voto do eleitor mediano dá a classe média urbana é atenção nenhuma. Não estou me referindo a quem se diz representante, mas a quem possa de fato representar demandas. Em síntese, o desenvolvimento é para todos ou não é desenvolvimento. simples, claro e direto.

De fato o eleitor médio quer crescimento econômico, estabilidade de preços e continuidade das políticas de equidade. Esse eleitor médio está abaixo, em termos de estratificação por renda, da classe média urbana. Não deixa de ser uma “classe média urbana”, mas por ser emergente não tem interesses consolidados. É o caso da família que não se importa, ainda, com a qualidade do ensino, mas sim com o fato de ter uma segunda ou terceira geração contínua freqüentando os bancos escolares. Esta continuidade é a face concreta do crescimento feito com equidade. Em algum momento esse eleitor médio vai perceber que para ir além desse piso de renda não basta estar na escola, é preciso que o ensino tenha qualidade. Ai, neste ponto, as demandas vão mudar.

E isto a oposição ainda não se deu conta. Na realidade quantidade tem custo. Inaugurar 10 mil escolas, por exemplo, tem um custo. Mas fornecer 10 mil ensinos com qualidade suficiente para resolverem a questão emprego x mercado, dando sustentabilidade e capacidade de ascensão social para além do ponto atual tem um custo muito maior, pois não envolve apenas tijolo e cimento. Nesse momento o Estado brasileiro não poderá ser o que é e nem as políticas sociais poderão apenas estar centradas no assistencialismo. Vai chegar uma hora na qual a qualidade do gasto vai ter que ser questionada ou teremos que ter mais tributação.

Muito provavelmente não será esse governo, com essa lógica de gasto que será capaz de prover essa demanda. O consórcio de poder teria que alterar tanto as suas lógicas que, provavelmente, se desfaria. Então ai parece que o FHC está errado. Tem sim um espaço para o discurso oposicionista junto ao eleitor médio: é mostrar que a continuidade das políticas públicas que geram o crescimento com equidade só se fará possível com uma forte mudança da lógica de governo e com o fim do uso do gasto público como forma de manter o poder, se vamos falar não em política econômica, mas em economia política.

Demétrio Carneiro, é economista, professor da UnB, especialista em políticas públicas, coordenador dos cursos de educação a distancia da Fundação Astrojildo Pereira e dirigente do PPS.